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Preservação Cultural e Inclusão Digital

Kaingang e Nheengatu são falados por cerca de 50 mil indígenas.

Em uma iniciativa inédita de inclusão digital e preservação cultural, a Motorola incluiu as línguas indígenas Kaingang e Nheengatu em seu sistema operacional. De acordo com o o IBGE, em 2010, o Brasil resgistrava 274 idiomas usados pelos habitantes do seu território. Parece muito, mas se considerarmos que antes da chegada dos colonizadores existiam aproximadamente 1,3 mil línguas nativas, as perdas são enormes e continuam em ritmo devastador. As línguas Kaingang e Nheengatu são dois dos 216 idiomas falados no Brasil hoje, em iminente perigo de desaparecimento.
Atualmente, dos 30 mil indígenas que moram em aldeias que falam Kaingang espalhadas pelo Sul e Sudeste do Brasil, apenas metade ainda utiliza o idioma indígena. Muitos descendentes filhos nem falam mais a língua dos pais, e o idioma já é considerado pela Unesco “definitivamente em perigo de extinção”. E, quando uma língua morre, legados culturais inteiros somem junto. Para o enfrentamento deste problema, a Motorola Mobility, controlada pelo grupo chinês Lenovo, acaba de disponibilizar o Kaingang em seus celulares com o sistema operacional Android 11 e em todos os dispositivos que permitem a atualização para a nova versão. É a primeira fabricante de smartphones a acrescentar língua indígena nos dispositivos. 

Juntos, Kaingang e Nheengatu são falados por cerca de 50 mil indígenas. São 30 mil falando Kaingang, nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. O segundo é usado por 20 mil pessoas em aldeias amazônicas, englobando Brasil, Colômbia e Venezuela. 
NOVAS GERAÇÕES
Com o predomínio do português e do espanhol nas plataformas tecnológicas, as crianças indígenas brasileiras, colombianas e venezuelanas perdem a motivação em aprender a língua, porque a tecnologia não a aplica. Eles têm receptividade para a tecnologia, é uma necessidade para a juventude, mas, corre o risco de ser mais um dispositivo que pode colaborar com a extinção da cultura e da língua. Com a inserção do idioma, será possível por exemplo, inserir conteúdos relevantes para a preservação não só da língua, como da cultura destes grupos sociais. O trabalho feito pela Motorola ganha relevância para estes povos e para a floresta, já que 70% de nomes de peixes são de origem Nheengatu, e entre 50% e 60% dos nomes de cidades e de rios são oriundos desse idioma.

Segundo pesquisa do IBGE de 2018, no Amazonas, por exemplo, em 100% das casas com acesso à internet o celular está presente. E nas comunidades indígenas não é diferente. O que muda é o sinal de banda larga, que em alguns casos não tem conectividade eficiente. 

Foram quatro meses de pesquisa, captação de colaboradores e treinamento. E oito meses para tradução e revisão até chegar às mais de 500 mil palavras das suas línguas. Tudo traduzido praticamente do zero. Para se ter ideia da dimensão do processo, estima-se que no Português existam cerca de 600 mil verbetes. A empresa contratou dez indígenas, cinco de cada comunidade, para realizar o trabalho. Para executar o serviço, foi necessário disponibilizar alguns computadores e fornecer cursos para ensinar os indígenas a atuar na plataforma da Motorola.