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Reportagem da Pública mostra como políticos usam a Internet

A ascensão dos grupos conservadores nas redes sociais – da revolta “pop” ao uso de perfis fake e robôs importados da campanha eleitoral

Aos 37 anos, o carapicuibano André Ricardo de Paulo não sabe explicar com precisão qual sua tendência política. “Eu não sei me definir ainda. Posso dizer que sou conservador politicamente e liberal no sentido econômico”, diz. “Não tem como negar que estão ligados à direita.” Mas alguns anos atrás André sabia perfeitamente o que era: “Não tinha consciência política”. Em 2002, na campanha eleitoral que elegeu Luíz Inácio Lula da Silva, votou nulo simplesmente por não conhecer nada sobre o tema. Em 2006, votou pela reeleição do ex-presidente. “Nós achávamos o máximo o Lula no poder. O Lula é um fenômeno, sair de onde ele saiu e chegar aonde chegou.” Hoje em dia, depois de ter buscado se informar, André está seguro de que o Brasil vive uma “ditadura disfarçada” e de que “Lula e Dilma fazem parte do mesmo  projeto: espalhar o comunismo na América”, explica ele, na varanda da casa dos sogros, uma coleção de puxadinhos de concreto em Carapicuíba, cidade da grande São Paulo, onde mora com a família da esposa – os pais e os cunhados –, além dos dois filhos. Na rua, crianças empinam pipa, um boteco atende aos moradores, e do outro lado as casas sem reboco enfileiram-se vermelhas. “Não é uma favela, é uma periferia. É a visão do Marrocos”, diz, colocando em seguida em cima da mesa um livro grosso, orgulhoso, “O mínimo que você tem que saber para não ser um idiota”, de Olavo de Carvalho. Explica: “Não tive tempo ainda para ler isso precisa de uma dedicação, né?”.

Até cerca de sete anos atrás, André nunca tivera tempo de pensar em política. Trabalha desde os 14 anos. Foi office-boy, operador de telemarketing, assistente administrativo. Hoje tem sua pequena empresa que fornece serviços de telefonia. “Trabalhei praticamente todos os fins de semana, desde cedo”, diz. Tudo mudou quando um primo indicou-lhe a leitura da página do filósofo e polemista Olavo de Carvalho no Facebook. “Logo nas primeiras coisas que eu vi do Olavo já percebi que eu tava errado. É tão claro.” Desde então, André visita a página todos os dias, além de seguir outros colunistas como Felipe Moura Brasil e Rodrigo Constantino, da Veja. Faz eco às bandeiras abraçadas por seus autores preferidos: defende o Estado mínimo, é a favor da redução da maioridade penal, ataca o que chama de “gayzismo” – a imposição do modo de vida homossexual sobre a sociedade – e acha que políticas como Bolsa Família e cotas “deixam as pessoas acomodadas”.

Como centenas de milhares de brasileiros, o “despertar” político de André tem tudo a ver com a sua crescente intimidade com a internet. Hoje ele usa sua página no Faceook para compartilhar notícias de interesse, propagando informação para seu círculo. “Já tive posts de cem comentários, até uns 150 likes. Isso aí vai pra tanto lugar que você não imagina”, orgulha-se. “Não confio em mídia nenhuma a não ser nas alternativas”, explica, citando os sites Mídia sem Máscara, de Olavo de Carvalho, e Folha Política.

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, realizada pelo Ibope, a internet é de longe o meio de informação que mais cresce entre os brasileiros. Metade da população já usa internet. Desde o ano anterior, aumentou de 26% para 37% o número daqueles que a utilizam todos os dias. Sessenta e cinco por cento dos jovens na faixa de 16 a 25 anos se conectam todos os dias durante mais de cinco horas, em média. Entre os internautas, 92% estão conectados por meio de redes sociais, sendo as mais utilizadas o Facebook (83%), o WhatsApp (58%) e o YouTube (17%). Apenas 7% leem jornais diariamente. A TV continua sendo o meio mais usado: 73% disseram assistir diariamente.

“A internet é hoje em dia um campo de batalha entre a velha ordem repressora e os projetos de liberação das jovens gerações. Todos esses projetos sociais estão presentes na internet, e é por ela que se chega às mentes das pessoas”, analisa o sociólogo catalão Manuel Castells, professor da Universidade do Sul da Califórnia (USC, na sigla em inglês), que estuda o impacto da tecnologia na cultura e na política. “É o verdadeiro lugar do poder.”

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