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Nova Diretoria do CI/UFPB assume o desafio de mudar a trágica estatística: 30% se formam

Por Márcia Dementshuk, da Anid
17, outubro, 2016

No próximo dia 2 de novembro os professores Hamilton Soares e Lucídio Cabral assumem os cargos de diretor e vice-diretor, respectivamente, do Centro de Informática da Universidade Federal da Paraíba. O desafio que eles enfrentarão será mudar uma estatística trágica do CI: atualmente, apenas 30% dos alunos que entram nos cursos de tecnologia da UFPB chegam ao final.

O maior número de formaturas é no curso mais antigo oferecido pelo CI, o Bacharelado em Ciência da Computação. Entram 60 alunos por período, 120 por ano. Formam-se cerca de 10 a 15 alunos por semestre. Quando fecha uma formatura com mais de 15 alunos é um marco. No curso de Matemática da computação ninguém ainda se formou. É um curso recente, mas já era para duas turmas tere concluído, mas ainda não saiu nenhuma. O curso de Engenharia da Computação está formando, mas poucos alunos. Menos do que o bacharelado.

O custo para o governo, nesse caso é altíssimo. Há o investimento em instalações, laboratórios, corpo docente, entre outros.

- Tem curso aqui [na UFPB] que, para formar um aluno, investe mais de R$ 1 milhão. E isso não acontece só na área de tecnologia. O curso de Estatística, do Centro de Ciências Exatas e da Natureza, [onde estão também os cursos de Matemática, Física, Biologia Molecular, Química, Ecologia, geociências], não forma quase ninguém.

Esse é um problema que atinge as universidades no Brasil todo, na área de tecnologia. Segundo o professor Hamilton, que dá aulas na graduação, o problema vem se agravando há cerca de seis anos.

- O Brasil ganharia muito mais com investimentos em cursos técnicos em tecnologia do que formando “doutores” - analisa o futuro diretor do CI.

A cultura que o brasileiro cultiva com relação à necessidade de o jovem fazer uma faculdade para ter um destaque profissional e, consequentemente, econômico e social, é equivocada, na visão do professor Hamilton. A pessoa poderia fazer um bom curso técnico, ter um aproveitamento muito melhor, se formar em menos tempo e conseguir um bom emprego. As famílias exercem uma pressão em direção a um caminho, quando há outras possibilidades para a vida dos jovens.

- O aluno, hoje em dia, é pouco interessado, é mais relapso, é ligado em muitas coisas, mas se fixa pouco em um foco. A universidade é exigente, estimula o espírito da pesquisa, da curiosidade, da criatividade. Muitas pessoas não têm esse perfil e chegam na faculdade sem esse espírito. E se decepcionam, às vezes são novos demais, entram com 16 anos. Por isso, não acompanham o desenvolvimento do curso e desistem no meio do caminho carregando, muitas vezes, o peso de um sentimento de frustração imposto.

Os alunos que têm facilidade, se sobressaem. Os que têm dificuldade são muito ruins, fica um desnível grande, e eles desistem. São dois extremos.

O CI tem 66 professores; 885 estudantes estão matriculados em cursos de graduação e pós-graduação. Um dos fatores que ampliaram o ingresso de alunos foi a política educacional dos governos de Lula e Dilma. No programa Reune, havia duas opções: aumentar o número de vagas ou ampliar os cursos. Na universidade de Campina optou-se por aumentar o número de vagas:

- É uma turma de 100 alunos por período, uma coisa estúpida, por isso tem caído muito a qualidade. Eu que ensino há tanto tempo posso comparar isso – constata professor Hamilton. A qualidade do aluno hoje está muito pior do que a de antigamente. É uma queixa generalizada de todos os professores, o que os impressiona.

Diante dos anúncios do novo governo com relação aos cortes de recursos nas universidades federais, Hamilton Soares e Lucídio Cabral pretendem firmar parcerias público-privadas com empresas da área de tecnologia para ampliar os horizontes de aprendizado dos alunos. Já existe uma experiência exitosa, o Conductor Lab, uma parceria com o Instituto de Desenvolvimento da Paraíba (IDEP) da UFPB

- Estamos preocupados em melhorar a qualidade – anunciou o professor Hamilton. Estamos pensando em algumas ações para melhorar a qualidade do ensino, melhorar nossos laboratórios que não acompanharam a evolução tecnológica nem o crescimento da demanda de alunos. O CI vai estimular a parceria com empresas. Por exemplo, a empresa ajuda a complementar alguma instalação física e oferece bolsas aos alunos para levá-los ao mercado de trabalho. A perspectiva é muito forte nesse campo. Sabemos que o governo federal têm planos de restringir os recuros e se não buscarmos incrementar essas oportunidades não conseguiremos acompanhar o mercado.

O atual diretor, professor Guido Lemos, e a vice-diretora, Valéria Soares encerram a gestão em 1º de novembro deste ano.